Birras, birras, birras... Quem tem um filho de 1 a 3 anos de idade, na certa já leu a respeito, procurou se informar e pediu ajuda aos universitários. Eu fiquei obcecada com o assunto quando minha filha deu seu primeiro ataque no meio da rua, com menos de 2 anos, porque queria atravessar sozinha. Eu chorei, meu marido interviu e fiquei ali, meio que em estado de choque. Não foi a única birra dela e tenho certeza de que todas as mães passaram ou passarão por isso em algum momento da vida.
Não posso falar sobre crianças mais velhas, pois nada sei a respeito, mas entendi bem o que ocorre com essas pequeninas, tanto que minha filha parou de fazer birras poucos meses depois, por volta dos 2a3m.
Primeiro, pare de achar que todo ataque de choro e pontapés é uma tentativa de testar limites. Esse testar os limites, a famosa birra, ocorre quando a criança percebe que alguém faz a vontade dela pra que o choro termine logo. Elas são tão espertas que criam um padrão: mamãe cede quando está na rua, papai cede à noite quando está cansado e etc. Quando isso vira rotina, a birra perde toda a emoção e se torna aquele choro sem lágrimas, a mais pura encenação.
Falando agora dos ataques de raiva e frustração...
Esses são ataques legítimos, baseados em emoções fortes e que se confundem com as birras do estilo chantagem que acabei de mencionar.
Há dois momentos distintos: há o ataque de raiva e o choro da frustração. No primeiro, é impossível dialogar com a criança. Sugiro as técnicas do Dr. Harvey Karp que vou abordar mais adiante. No segundo momento, a criança chora e pode vir a ser grosseira, mal humorada, mas ela está ouvindo o que dizemos.
Devemos levar três pontos em consideração.
Primeiro:
crianças pequenas possuem sentimentos simples e egocêntricos.
Pensem nelas como a fada Sininho, que de tão pequenina, só conseguia ter um sentimento por vez. Emoções complexas estão fora de cogitação então não espere compreensão, gratidão e empatia da parte delas. Não que elas sejam egoístas por escolha; é que elas ainda não aprenderam a se colocar no lugar do outro, ainda mais quando estão vivendo um momento de frustração, raiva ou medo. É impossível pra elas lidarem com qualquer outro sentimento além desses. Lembre-se: seu filho mal tirou as fraldas, portanto, não exija tanto dele! É um sentimento por vez.
Segundo:
crianças pequenas não sabem o que fazer com o sentimento que toma conta delas, particularmente o medo, a raiva e a frustração. Sem saber como agir, elas choram, gritam e esperneiam. Algumas batem e mordem.
Pense em você por horas escrevendo uma dissertação de mestrado quando falta luz e se lembra de que não salvou o documento. Duvido muito que você lide com essa frustração calmamente dizendo: "Ah, que pena! Terei que passar horas escrevendo um novo texto, mas tudo bem, acontece." E saia assoviando. Não. Você vai fazer o que foi ensinada a fazer. Sentirá a raiva tomando conta, mas dará um jeito de canalizar essa raiva pra alguma coisa que não seja destruir o computador à sua frente.
Ignorar o seu filho durante um ataque de raiva, com certeza não ensinará a ele o que fazer quando esse sentimento chegar. Chorar é uma boa forma de lidar com a raiva, portanto, não queira que ele engula o choro. É cedo demais para ele saber se controlar sozinho. Não exija isso dele!
Quando minha filha chega nesse estágio em que já se conformou com a situação, está com raiva de mim por eu ter negado algo a ela e frustrada por não ter o que deseja, ela começa a chorar. É diferente do ataque do momento anterior. Ao invés de brigar com ela pelo escândalo, eu tento abraçá-la, ficar próximo, fazer um carinho. Sou solidária à minha filha. Seja solidária! Tente se colocar no lugar deles. O que para as pessoas de fora não passa de uma birra de criança mimada, para o nosso filho é um momento de estresse, de aprendizado e aceitação de si mesmo. Conforme eles vão amadurecendo, podemos ensinar a contar respirações, por exemplo, ou alguma outra técnica, mas no princípio, o que eles precisam é de compreensão e paciência.
Não ceder aos desejos das crianças é diferente de ignorar, ameaçar ou brigar com elas. É possível negar um desejo sendo gentil e amável mesmo diante de um ataque de raiva.
Terceiro:
eles não sabem o que estão sentindo.
Nós explicamos a eles sobre as formas, os números e as cores, mas esquecemos de ensinar o fundamental para um vida saudável: o que são e quais são os sentimentos. No momento em que eles ficam zangados, frustrados, tristes... Essa é a hora de explicarmos o que estão sentindo e porquê. Quando abraçá-lo e estiver com eles, acalmando-os após um ataque de raiva, explique o que estão sentindo: "Você está com raiva da mamãe, muita raiva, mas isso vai passar. Vou ficar aqui com você até passar."
Dr. Harvey Karp
dialogando com crianças pequenas e transtornadas por um ataque de raiva
Mas não adianta vir com esse grande discurso na hora do ataque! Não, não! Lembra que mencionei a técnica do Dr. Harvey Karp lá em cima? Ele é autor do livro "A Criança mais Feliz do Pedaço" e ensina a forma de dialogar com crianças pequenas quando estão transtornadas e mal ouvem o que a gente diz. Ele sugere frases curtas e repetidas para que a criança saiba que entendemos o recado. Algo mais ou menos assim: seu filho quer biscoito na hora do almoço e começa a ter um ataque quando ouve o não. Você deve dizer: "Biscoito! Biscoito! Você quer biscoito! Biscoito é bom! Gostoso!" E assim vai até que ele se acalme e passe a te ouvir. Aí sim, você pode negar o biscoito.
Eu diria aqui para evitar a palavra "não". Ao invés de explicar que ele não terá o biscoito porque deverá almoçar antes. Diga que sim, que ele terá o biscoito logo depois de almoçar. Lembre que a mente do seu filho funciona de forma rudimentar, principalmente nos momentos de estresse.
Eu super indico o livro do Dr. Karp. Acho que deveria se chamar: "Os Pais mais Felizes do Pedaço". *risos*
Eu escrevi tudo isso para tentar quebrar um pouco com a ideia do "testar limites" que foi banalizado pela imprensa e até pelos profissionais da área como psicólogos e pedagogos. Nossas crianças não são pequenos rebeldes querendo quebrar o status quo; são seres que estão aprendendo sobre o mundo, sobre si mesmos e que possuem um cérebro bem mais simples que o nosso.
Eu tenho um lema, uma regra ou um código de conduta (não sei ao certo como classificar) que me diz que ninguém - ninguém! (e principalmente as crianças) deveria chorar sozinho. Não é preciso muito, basta estar ao lado. Se não pudermos ser o ombro amigo de nossos filhos... que mundo é esse?