10 de novembro de 2008

Através de um gozo

Esse texto foi enviado pelo Dr. Ricardo Jones à lista de discussão Parto Natural, mas não é de sua autoria.
"As marcas do modelo tecnocrático contemporâneo na atenção ao parto podem ser vistas na maneira fria e asséptica com que conduzimos o nascimento nos hospitais do ocidente. Nós nos aprofundamos nos tecidos, no obscuro recôndito das células, nos núcleos e até nos átomos, para assim fugir nosso olhar da evidência avassaladora do erotismo que emana do rosto de uma mulher parindo. Fechamos nossos olhos, nos impondo a pior das cegueiras. Calamos no peito a clareza das palavras que nos chegam aos ouvidos. Ensurdecemo-nos aos gemidos, aos gritos, ao êxtase da vida que finalmente brota da umidade vaginal. Para nós, parece insuportável a idéia de que a existência se instala através de um gozo, na languidez de um corpo que se contorce, na dúbia penumbra que separa (ou une) a dor do prazer. Fugimos da cena tapando os corpos, cobrindo os rostos, desviando nosso olhar e colocando na carne o bisturi que, por fim, nos confirma: "Nada há que escape aos meus sentidos. Nada além do rubro líquido que mancha minhas mãos". Suspiramos aliviados, mas apenas até a próxima mulher se acercar de nós e nos mostrar, no rosto, o sorriso enigmático onde se esconde o segredo. E nossa ferida voltará a sangrar."

- Dr. Jones, de quem é esse texto para eu poder creditar no meu blog?
- Credita assim: Max Trebreh, obstetra e maluco beleza. *rsrsrs*

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